segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

A tribo

Como leitora ávida e fã de Daniel Quinn que sou, adoro saber de experiências tribais. Nunca pus nada disso em prática, com muita pena minha, mas sempre vou lendo o que se anda a fazer por este mundo em termos de viver fora do que chamo "esquemão".
Li, assim, há algum tempo, este post da Cátia que vou copiar aqui, e gostei mesmo muito do que ela escreveu.
Vale a pena dar uma vista de olhos - de preferência olhos bem abertos.


Construir uma pequena tribo

Estava eu em casa de uma amiga, que teve bebé recentemente, e ao ver que se estava " a passar" com tudo o que tinha para fazer, propus cuidar dos nossos dois bebés enquanto ela dava conta das fraldas, comidas, limpezas etc... vendo que ficou apreensiva em relação a deixar o seu bebé comigo, sugeri que ela podia ficar com os dois bebés e eu dava uma ajuda, por exemplo, lavando a loiça.... ao ouvir essa sugestão ficou ainda mais aflita porque não queria outras pessoas a tratar das sua coisas, porque ela é que é a responsável pela sua casa e só a ela cabe limpa-la e arruma-la.

O resultado desta minha tentativa de constituição de uma "pequena tribo" foi que vou muito menos vezes a sua casa pois ela diz sempre que tem muito que fazer, que está tudo desarrumado etc... de facto, é complicado receber pessoas em casa e andar a servir sumos, chás e bolos quando tudo está de pernas para o ar mas podia ser muito reconfortante receber amigas que, entre conversas e quem sabe bolinhos, nos ajudam a pôr a casa em ordem. Digam lá se assim não seria muito mais simples receber visitas mesmo estando com recém-nascidos?

Penso que, à semelhança desta minha amiga, muitas mulheres sentem a obrigação de ter tudo perfeito e a ajuda externa aparece como um apontar o dedo à sua suposta incapacidade de gerir as suas casas e as suas vidas.

Qualquer mãe sabe que passar meses a fio em casa com um bebé como única companhia e resmas de roupa e loiça para lavar, mamadas mais ou menos prolongadas e fraldas para mudar como únicas actividades, está longe do nosso ideal de férias prolongadas. No entanto, quase todas as mães nos "vendem" esse imagem misto de alegria e abnegação e casa uma de nós lá se resigna às agruras e isolamento dos primeiros meses de maternidade pois queremos, no mínimo, ser tão boas mulheres e mães como as nossas irmãs, primas, amigas, colegas de trabalho etc...

Era bom ver mais mulheres a pedir ajuda, ver mais mulheres a bater com o pé e a dizer que não querem a solidão de estar dia após dia fechadas em casa com um bebé, que não gostam da sobrecarga de trabalho quando o corpo e a mente só pedem paz. Talvez assim as futuras mães se sentissem menos "obrigadas" à perfeição.

Como vivemos isolados em caixinhas de fósforos, sem o apoio da família alargada e muito menos sem uma "tribo" que onde nos sentimos integradas, podíamos começar por construir pequenas tribos de mulheres que tem a coragem de pedir ajuda e de ajudar, que partilham as tarefas domésticas e se apoiam nos cuidados aos seus filhos sem medo de admitir que a maternidade a sós pode ser um fardo muito pesado.

A todas as "mães da minha vida", desculpem pois quando tiveram filhos eu não sabia o quanto uma mãozinha podia ter sido bemvinda.

A todas as pessoas que ofereceram ajuda e eu recusei, "shame on me" por querer fazer tudo sozinha.

A todas as amigas que vão ser mães, espero estar por perto para vos apoiar.

(Parabéns tardiamente por este post, Cátia.)

E, já agora, fica aqui a dica de uma aventura para a mente e para o coração.

8 comentários:

Mafalda disse...

gostei muito deste post/texto. Sou exactamente da mesmíssima opinião, mais, acho que o mundo dos babyblogues ainda veio aumentar mais essa 'pressão' de que na maternidade tudo é lindo e maravilhoso, de que os filhos não berram nem nos dão noites mal dormidas e crises de choro e ataques de pânico. Faz falta mais textos destes, mais apontar o dedo. Ter filhos é muito bom sim, mas não somos - nem temos de ser - as super mulheres.

Melissa disse...

Adorei a ideia das minitribos. Um dia vão a casa duma, outro a casa doutra... umas cuidam dos bebés, enquanto as outras dão um jeito a casa. Acho perfeito.

Márcia disse...

Olha ai esta uma visão muito realista da maternidade!!!

Concordo plenamente, aliás faz-me um pouco de confusão as pessoas que estão a pensar ter filhos ou grávidas/os só falarem nos aspectos positivos e os amigos/as já pais reforçarem esta visão.

Eu normalmente falo nos aspectos negativos (possivelmente até demais!!!LOL), porque para mim sempre foi melhor preparar-me psicologicamente para o pior em qualquer situação. É que dpeois é sempre mais fácil, chama-se a isto baixar as expectativas!!!

E um dos "conselhos" que dou a mamãs/papás recentes é pedirem ajuda, porem as mães e as sogras a fazerem comida, passarem a ferro, limparem a casa. É que uma pessoa não é super-mulher e um récem-nascido é avassalador!!!

Beijos grandes,
Márcia

Melissa disse...

Márcia, o que acho inovador e bom na sugestão da Cátia é não pedir ajuda só na vertical - mães, sogras - mas serem as amigas a ajudar também. A Cátia, por exemplo, não tem família em Lisboa, e seria excelente ter uma "tribo" a quem recorrer.

Normalmente tentamos parecer perfeitas umas para as outras, e formar um grupo de entreajuda de mães parece-me um grande acto de honestidade e amizade.

Pekala disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Pekala disse...

muitas vezes as próprias mães boicotam-se umas às outras,não querem dar parte de fracas e é verdade que este mundo dos babyblogs veio piorar isso ainda mais,é tudo tão cor de rosinha e azul clarinho,tudo tão perfeitinho como se fosse mesmo verdade que em alturas de crise basta olhar pra eles e tudo parece perfeito..não é assim e todas nós sabemos disso.existem é umas sortudas que descontraiem mais mas também não sao muitas...mas olha que eu pedia ajuda e só a recebi uma vez ou duas.o meu filho gritava tanto que a minha própria mãe "fugia" de mim.Pôrra,foi terrível.a boa notícia é que sobrevivemos(apesar de ter ponderado muitas vezes atirar-me pela janela).mas~definitivamente não tenho saudades de bébés em casa.NADA!

Pekala disse...

sorry removi o comentário anterior porque tinha um erro ortográfico horroroso!!lol

Anónimo disse...

olá,

que bom ver tantas adeptas das mini tribos :)
Parece que é bem mais fácil construir tribos virtuais do que reais. Quando se trata de nos juntarmos aparece o frio, a distância, os transportes etc..., etc... e fica sempre tudo adiado mas, continuamos a tentar.
também concordo que o mundo das mamãs bloguistas é demasiado bonitinho para ser verdadeiro (não é que vida seja feia). às vezes apetece-me escrever-lhes perguntar como é que está sempre tudo tão perfeitinho nas suas vidas.
um dia destes podíamos reunir a tribo num jardim e conversar sobre estas coisas, o que vos parece?