segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

A pedra no sapato em forma de sapato de vela

Tudo começou com um item de um dos colégios que andávamos a ver para o Gabriel. O uniforme exigia sapatos de vela. Já tínhamos combinado, cá em casa, fazer vista grossa a "pormenores", mas caramba, sapatos de vela para nós não era um pormenor, era um fator determinante. Deal breaker.

E continuámos a mandar mails e a receber respostas, ora com preços exorbitantes e atividades com nomes impronunciáveis (fastrakakids?). Ou preços mais simpáticos mas com instalações muito antigas, enfim. Alguns sapatos de vela. Algumas promoções do género "traga um amigo e ganhe uma inscrição", e de um infantário com dificuldades financeiras já estou eu a sair (é coisa não bonita de se ver).

Ora bem, não podemos, nem por motivos financeiros nem por motivos de sapatos, manter o Gabriel num colégio de topo. Restou-nos um externato simpático e muito simples em Carcavelos. Mesmo com uma mensalidade mais meiguinha, ainda é maior do que a pagamos pela prestação da casa.

Ontem, na festa de anos do Gabriel e a falar com pais de colegas e amigos, caiu-nos em cima a noção: porque diabo nós, como quase todo mundo ali, não íamos inscrever o puto no pré-escolar público? Não nos ocorreu nenhuma razão que não fosse preconceituosa - afinal, não conhecemos nenhuma escola pública de perto. E assim, com a maior das facilidades, saíram-nos os sapatos de vela e/ou 450 eur a menos no orçamento. E as possibilidades começaram a abrir-se.

- O Gabriel, e aqui não tenho o menor problema em ser cagona, tem uma educação de luxo. Fazemos montes de coisas com ele e expomo-lo a variadíssimas experiências. Não somos castradores e somos criativos. Isto para dizer que, de perto, ele não precisa de fastrakakids.
- O ir para uma pública abre a porta para mais um filho, caso as coisas melhorem um pouco. Mesmo com a ajuda do meu pai, não daria nunca para ter dois no privado e jamais teria um dentro e um fora.
- Não sentimos aquela coisinha ruim de inadequação e fuga que andávamos (eu andava, na verdade), a sentir. O que mais vejo por aí são bloggers a defenderem-se de ataques que qualquer olho mais atento consegue ver que não foram feitos se não por elas mesmas. E começava a ser assim comigo em relação à escola pública, estava a tornar-me melindrosa.
- Ter contacto com mais tipos de miúdos é algo que me agrada. Ontem estive a ler a lista dos aprovados nos JI aqui da zona e tinha ataquezinhos de riso dos nomes brazucas.
- As minhas expetativas são baixas. São mesmo baixas. Fui criada em colégio, bem como o meu irmão. Sendo as minhas expetativas tão baixas, não imagino como possa dececionar-me. A primeira impressão já foi boa. Mandei vários mails hoje de manhã a pedir informações e a maioria foi respondida. Gostei. Também gostei de ver que as escolas se mexem, têm blogs e páginas no FB, que os pais são ativos na educação dos filhos.
- Acima de tudo: se correr mal, vai para o privado, com ou sem sapatos de vela, no dia seguinte. Sou mãe-que-prende. O meu menino é um percentil 5 de altura. Tenho de o proteger. Vamos tentar a escola pública porque está mais de acordo com as nossas possibilidades financeiras e a nossa consciência. Mas viro quenga burguesa no minuto em que sentir que o meu filho não está bem. Mas vai ficar bem, algo me diz. Algo me diz.


Pronto, agora é torcer para que haja vagas aos quatros anos no ano que vem nas escolas que quero. Difícil.

12 comentários:

Naná disse...

Melissa, sabes que eu estou a contar os minutos para poder inscrever o meu filho na escola pública! A IPSS onde ele anda desde os 18 meses tem-me feito a cabeça em água nos últimos tempos... já não os posso ver! Estou farta de pagar cada vez mais por um serviço, que é cada vez pior em termos de qualidade...

E sinceramente, eu que andei num externato até à 2.ª classe, quando na 3.º fui para a escola pública percebi que estava a milhas do conhecimento que já deveria ter aprendido até ali. Na 3.ª classe tive que recuperar terreno e aprender num ano o que não aprendera nos dois anteriores, em que frequentei o externato.

gralha disse...

Para mim nunca foi questão de público ou privado mas de que escola em concreto. Sou acérrima defensora do ensino público mas, se isso significasse que o meu filho-de-porcelana (não obstante o percentil 95 de altura) não sobrevive a uma escola no meio de um bairro de reinserção. Atirem-me as pedras todas, que é para o lado que eu durmo melhor. Faço é toda a ginástica possível para ir para uma boa escola pública, que as há, graças a Deus! :)

gralha disse...

A minha frase não fez sentido nenhum mas espero que se perceba o desabafo.

Ana C. disse...

Existem escolas privadas boas, muito boas e merdosas.
Exactamente o mesmo para as públicas.
Se tiveres a sorte de a tua ser boa, ou muito boa é o jackpot, sem sapatos vela.
Se for merdosa, tens bom remédio, mudas.
Não tenho preconceito em relação a nenhum sistema de ensino, é preciso é que não seja merdoso e tenha um ambiente sereno, com o qual te identifiques minimamente.

manue disse...

ai Melissa não tinha noção que era tão posh! :)

Melissa disse...

Sou burguesa em pele de comuna,manue!

Melissa disse...

Boas e mas ha em todo o lado,mas acho que no privado estao mais protegidos, e amo proteçao.

disse...

LOL.... as condições actuais não permitem meter as crianças em privados infelizmente, se bem que penso que a exposição a todas as realidade sociais vão permitir uma melhor aceitação da mesma...
Nós com a chegada das gémeas não vamos definicitivamente poder ter a M em privado...

Bjitos
Tere

c disse...

Conheço um caso de uma mãe que, durante anos, fez das tripas coração para conseguir pagar o colégio do filho. Aos 14 anos, o miúdo estava com uma depressão porque nunca se sentiu integrado, não usava as marcas x nem tinha as coisas y (entre outros problemas, claro). O factor sorte é demasiado grande. Como escreveu Piaget, a melhor escola é a que fica mais perto de casa. Havendo várias e podendo escolher, melhor :)

Ana. disse...

Mas o que é que tu tens contra sapatos de vela, hã?!!!!!!

Anónimo disse...

Vocês têm tantos problemas que não me atingem, pá. É que aqui só há uma escola - pública - e é isso. Está feito, não há preocupações com vagas nem mensalidades nem essas coisas todas...
Deve ser isto o lado bom de viver num concelho pequeno do interior... ah, é isso! :)

Tópico qualidade: maisómenos... mas sou muito assídua e mantenho contacto com professoras e educadoras e tento perceber o estado das coisas! O mais velho entrou em setembro na primária e já lê muito, mas muito bem. Não lia antes pelo que, numa turma com 25 alunos, a coisa não vai mal. Sim, o lado mau é esse, todos os alunos que entraram no 1.º ano foram divididos por apenas 2 turmas, 25 alunos... Claro que podiam ser 4 turmas, 4 professores com trabalho, 12 ou 13 alunos por turma e era o ideal, mas falamos do ensino público e aqui é assim... Sempre estudei em turmas de 20 e muitos alunos e safei-me, não é?!!! :)
Vai correr bem e assim mais um bebé doce de mel(!!!), é só aspectos positivos!

Maria João disse...

Se algo te diz que vai correr bem, é porque vai. Feeling de mãe nunca, mas nunca falha!! Toda a sorte! E protege o teu percentil 5, pois claro que sim:)