terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Espera até começar a andar

Não foi por falta de aviso.
Enquanto me queixava, durante a licença paternal, da falta de companhia que o Gabriel me fazia, alguns pais mais experientes avisavam-me convictos que o melhor era aproveitar agora porque, depois, não teria sossego nenhum e a companhia que reclamava, podia ficar ciente, quando viesse, chegaria a dobrar.
Dito e feito. Agora com 11 meses, a cria arrasta-se airosa pelo chão como uma lesma supersónica sem olhar para os perigos que a rodeiam. Mas a natureza é perfeita, como se costuma dizer, e o juízo que ainda não deu ao filho concedeu-o ao pai, apetrechando-o assim duma extremosa atenção que o faz ter sempre um olho na lesma e outro no cigano.
Já se sabe que os riscos são muitos. Desde tomadas a fios, passando pelos clássicos cantos de mesa até chegar aos aquecedores. Tudo é perigoso e susceptível de ferir o rastejante. Portanto, se me queixava que não tinha tempo para tudo na vida, agora, acreditem, menos tenho. Se estou a ler um livro sossegado com ele ao lado e a concentrar-me na prosa do escritor, a determinada altura o rasteirinho de três palmos estica-me o pescoço e começa determinado uma marcha até sabe Deus onde. Alço-lhe a mão e o pobre coitado lá fica a espernear no vazio:
- Tá lá quietinho, vá!
Quando estou a ver televisão calmamente sentado no sofá com ele a descansar sobre o peito, numa imagem idílica fabricada pela Anna Guedes, o catraio lembra-se sempre dum afazer urgente, daqueles que não podem esperar, rebola como um leão marinho de Jardim zoológico e lá vai ele:
- Tá lá quietinho, vá!
Apesar de não ser nenhum supra-sumo do desenvolvimento infantil, principalmente no que toca a coordenação motora, a atenção que ele desenvolveu a sons e movimentos é agora tanta que basta a mãe tossir para que ponha o turbo percorrendo, destemido e de sorriso largo, qualquer distância até ao seu objectivo:
- Tá lá quietinho, vá!
Com esta rambóia só consigo descansar mesmo ao fim do dia, depois da sopa comida e do banho tomado. Lá me deito e repousado no leito ao lado da minha mulher, beijo-lhe o pescoço e aninho-me para lhe sentir o calor:
- Tá lá quietinho, vá!

3 comentários:

Melissa disse...

haa.

Pekala disse...

é lixado:)
estamos cheias de peninha AHAHAHAHAHAHAHAHAHAH

Ana. disse...

Ahahahaha!
Ai meu deus!!
Esta foi a primeira gargalhada do dia vinda cá do fundo!!

Não tenho palavras!! Só me consigo rir e tenho já um certo lacrimejar nos olhos!!

;)