segunda-feira, 6 de junho de 2011

Partilhar

No Verão passado, brincava o meu filho calmamente com os seus tarecos na praia de São Pedro quando se aproxima um miúdo da mesma idade para brincar com ele. Fixe, pensámos nós, the more, the merrier. E aí o menino tira-lhe a pá da mão, e o Gabriel abre o berreiro. O pai do menino aproxima-se e diz ao filho para escolher outro brinquedo (do Gabriel), que é preciso dividir os brinquedos. O menino lá devolve a pá ao meu filho para tungas! Voltar a tirar outra vez. Novo berreiro. Nós vamos na cantiga do pai do menino: Gabriel, partilha lá com o João, dá-lhe lá a pá, brinca lá com o regador, etc, etc, etc, enquanto se sucediam o choro e frustração dele à medida que o João lhe ia tirando coisas da mão e o pai ia tentando educar-lhe para a "partilha".

O momento de chill do meu filho ali na praia tinha-se transformado num autêntico inferno pedagógico, para que diabo? Para que o pai do João ensinasse ao filho as virtudes da partilha? Às custas do meu filho? No way, jose.

Tenho pena de as minhas reacções serem sempre retardadas. Porque vendi um momento fixe do Gabriel ali naquela praia, a troco de nada. Claro que mal percebi isso, pus cara feia e o pai do João bazou logo com o filho para outro miúdo com outros baldes a partilhar.

Há momentos para tudo: para andarem todos à bulha pelos baldes e aí sim, entram os pais na medida do sensato e tentam pôr ordem na macacada - ou não, e há momentos em que os nossos filhos devem, sim, poder desfrutar das suas cenas sem querer partilhar. Porque não? O Gabriel já passa cerca de sete horas por dia a partilhar tudo e mais alguma coisa no infantário, não pode ter o seu momento pessoal, não pode cultivar a sua individualidade nunca? Foi o que aprendi nesse dia: ele tem de ser observado, lido e, sobretudo, respeitado. Não tem de ser "educado" 24h por dia, tem de saber que os pais também lhe reconhecem o espaço, também sabem ver que, às vezes, ele não quer partilhar, e não é por ser malcriado, é por ser indivíduo também.

E da próxima vez que ele estiver na sua, contente da vida a brincar sozinho, e chegar outro menino a tirar-lhe as coisas, vou interpretar o momento tendo-o a ele como prioridade.

E sim, também tento ver quando é o meu filho a incomodar o filho dos outros e desvio a sua atenção.

Há tempo para tudo, caraças.

6 comentários:

Irina A. disse...

O Sr. Partilhador, agarrava em 5 aérios, comprava uma porra de um balde, uma pá, um regador, e mais umas quantas porras ao puto, levava-o à praia e metia o puto a brincar com os outros putos. A cena do partilhar é cool, desde que o filho do Sr. Partilhador tenha alguma coisa também para partilhar. Estarem a brincar só com as nossas cenas deixa de ser cool, porque o filho do Sr. Partilhador tem novidades para brincar, mas o teu passa a ter só a frustração de além de não ter novidades para brincar ainda fica sem as suas merdas. Ora porra.

É a mesma merda que um casal fazer um piquenique a só tu é que levas comida. Isso n é partilha, é outra porra qualquer que n sei o nome.

Estou um bocado azeda hoje.

Melissa disse...

Pá, e desde que o Gabriel estivesse minimamente (minimamente mesmo) predisposto a partilhar. A vida não tem de ser uma aula de bons costumes o tempo todo.

Irina A. disse...

Eu partilho quando tenho vontade disso, quando n tenho, caguei. Não acordo todos os dias com vontade de partilhar... isto é como acordar, também há dias em que acordo e amo-me, outros dias não me suporto.

Eu no lugar do Gabi tinha dado com a pá na cabeça do puto.

gralha disse...

Amen.

Unknown disse...

..em caso de conflito entre crianças, os pais devem assistir entusiasticamente, uivando palavras de incentivo como "força", "da-lhe", "esmifra-o essa pequena besta"..
..esperar resultado final y fugir com todas as pernas em caso de vitoria do filho..

Ana C. disse...

Esta malta não entende que TODOS, MAS TODOS os putos passam pela fase em que não curtem partilhar?
Não quer dizer que sejam egoístas, nem mimados.
É tão cansativo estar ao lado de pais que estão sempre a debitar pedagogia da partilha a putos de 2 anos.
Lembro-me de um episódio que a minha tia conta muito, como tendo-a marcado pela negativa durante toda a vida.
A minha tia tinha cerca de 3 anos e estava num parque com o seu triciclo. Havia uma menina que queria andar na merda do triciclo e a minha avó mandou a minha tia sair e emprestou o triciclo à miúda desconhecida durante toda a tarde.
Ela diz que essa merda a magoou até hoje. Sim, as mães fodem-nos, mas não fodam com os nossos brinquedos, ok?