Se me perguntassem: Melissa, se pudesses ter a tua mãe de volta numa determinada situação, só numa, e nessa situação não pudesses dizer nada que não fosse subjacente à própria situação, o que escolherias? Eu diria, sem titubear por cinco segundos: queria ter mãe quando o Gabriel estivesse doente.
Quarenta minutos de tosse ininterrupta, fazendo lembrar os edemas de glote da mãe e do avô - que sabemos bem onde vão parar - cuspia o Aerius, lembrei-me da minha mãe a dizer que levavam o meu tio à praia no auge dos ataques de asma e foi isso mesmo o que eu fiz, agarrei nele só de fralda e baza para a praia, "tchau, Bob", diz ele para a TV, na praia a tosse continua, e voltamos para o carro, abro todas as janelas e vou até Cascais pela beira-mar e volto até Oeiras, até que a tosse ceda, cede logo, tosse, o menino quer cantar a-barata-diz-que-tem.
5 comentários:
Será que somos todas as cozinheiras e enfermeiras que as nossas mães nos ensinaram a ser?
Que angústia, pá. Nessas alturas, só quero que o tempo passe depressa.
Xô, tosse! Deixa o Gabriel!
Deixou, gralha. Foram mesmo 50 minutos directo.Depois parou. Assustei-me porque eu e o meu pai temos alergias letais que começam exactamente da mesma forma.
Presença de mãe é coisa que acalma a maior das crises. Nem precisava de conselho nenhum, só da presença, mesmo. Os meus momentos de fragilidade enquanto mãe têm desembocado sempre para a orfandade. As pessoas acham que é um estatuto do passado, esse. Que hoje em dia as pessoas fazem o luto e seguem em frente, e não é nada disso. Ser órfã de mãe é um estatuto com tantas características quanto o de ter mãe por perto. Assim como as mães aparecem de vez em quando, a ausência delas também aparece. Normalmente quando seriam elas a aparecer.
Enfim. :) Não quero parecer depressiva, porque já passou.
Ser orfã de mãe é mesmo um estatuto! E eu queria a minha mãe de volta sempre que o Filipe faz birras de meia noite... ela era um poço de paciência, que eu nunca fui nem nunca serei. A minha mãe era serena e meiga e isso faz-me falta todos os dias da minha vida.
Ai, Melissinha, nem quero imaginar o sufoco do teu coração nesses 50 minutos!... Devem ter parecido dias...
Naná, foi terrível, justamente por ter o tal historial. E depois, claro, vem o existencialismo...
Não sabia que também não tinhas cá a mãe neste plano.
Melissinha, percebo bem o existencialismo de que falas!
Sim perdi a minha mãe aos 16 anos... e o meu pai nem chegou a assistir ao 1.º aniversário do meu filhote... aí então senti-me mesmo orfã!!!
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