Às terças à noite, não tenho marido, não tenho filho, não tenho nada além de mim mesma. Às terças à noite agarro na minha mochilita e parto para Lisboa, onde passo três horas à volta duma mesa a aprender e a falar daquilo que mais gosto de fazer nesta vida. Toda a confusão mental e problemas de distração que me acompanham no resto do dia desaparecem ali, e ali estou de corpo e alma, a absorver tudo que é dito, a revirar os olhos com os disparates, a tomar notas com a minha letra muito feia.
Às 22h30 saio para o Largo Camões, que está apinhado de putos e estrangeiros e desço a rua do Alecrim em direção ao Cais do Sodré sozinha, escorregando na calçada, feliz da vida e a digerir todas as conversas daquela sessão da oficina, a sentir-me viva e revigorada - e cheia de fome também. O Pingo Doce do Cais do Sodré está aberto, uhuuu! (Também é bom fingir que estou num 7/11 de beira de estrada num filme qualquer, que a felicidade dá para isso, dá para a embriaguez).
E depois é o comboio das onze, cheio de malta trabalhadeira dos restaurantes a falar mal dos patrões ou de algum colega ausente, miúdas produzidíssimas que vão para algum lugar cheio de estilo, todo mundo com uma conversa tão gira, tão pouco suburbana, tão longe do que vivo que a viagem acaba por se tornar... Isso, uma viagem.
E é chegar a casa quase à meia noite, beijar o Hugo, perguntar se o jantar correu bem, espreitar o pequeno a dormir e voltar para o sofá, contar ao Hugo tudo que se passou na sessão do dia, conversar um pouquinho. Dividir um pouquinho.
Adoro estas terças e vou morrer de pena quando terminarem.
5 comentários:
Também quero.
Bora.
"Terças à noite no Chiado.", ou como recuperar o seu eu uma vez por semana, ou...
O Hugo também tem um dia só para ele, costuma ir à cinemateca :)
Que maravilha...
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