Lembro-me de, quando morreram os Mamonas Assassinas, mamãe ter ficado horas colada à TV, a consumir cada bocadinho de informação. Quando lhe perguntei que utilidade tinha aquilo, ela respondeu:
- Vão deixar de falar deles daqui a uns dias. Nunca mais vamos saber nada, acabou aqui. Por isso, vejo tudo agora para depois esquecer.
Encolhi os ombros e pensei "pois, queres é ver o sangue, que és um bichinho macabro".
Mas ela tinha razão, de certa forma. Quando alguém morre, deixa de produzir seja o que for. Congela-se no ar tudo que a pessoa deixa. E a quem cá fica, atordoado, não resta mais do que apanhar os bocadinhos que a pessoa deixou por aqui e fazer sentido deles: filmes, livros, e-mails, fotos. Fazemos a nossa colcha de retalhos pessoal de significados, colamos os pedaços e guardamo-los. E não há nada de macabro nisto. É o amor que ainda não foi devidamente sinalizado e continua a amar e a desejar a pessoa inteira, ou o mais inteira que possamos ter.
5 comentários:
Bem verdade, Melissa.
Melissa, é mesmo isto! Como é isto!!!
Tão verdade! Tão verdadinha! Tão bem descrito...
Adorei.
É tudo isso!
Sabes uma coisa que me impressiona, agora devido às novas tecnologias e falando directamente do FB, é uma amiga nossa ter falecido e de quando em vez ela "aparecer" no face do meu marido a dizer X gosta disto (não sei se me estou a explicar bem porque de FB percebo pouco)...é assim uma sensação boa mas estranha ao mesmo tempo.
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