sexta-feira, 19 de abril de 2013

Um relicário imenso deste amor

Lembro-me de, quando morreram os Mamonas Assassinas, mamãe ter ficado horas colada à TV, a consumir cada bocadinho de informação. Quando lhe perguntei que utilidade tinha aquilo, ela respondeu:

- Vão deixar de falar deles daqui a uns dias. Nunca mais vamos saber nada, acabou aqui. Por isso, vejo tudo agora para depois esquecer.

Encolhi os ombros e pensei "pois, queres é ver o sangue, que és um bichinho macabro".

Mas ela tinha razão, de certa forma. Quando alguém morre, deixa de produzir seja o que for. Congela-se no ar tudo que a pessoa deixa. E a quem cá fica, atordoado, não resta mais do que apanhar os bocadinhos que a pessoa deixou por aqui e fazer sentido deles: filmes, livros, e-mails, fotos. Fazemos a nossa colcha de retalhos pessoal de significados, colamos os pedaços e guardamo-los. E não há nada de macabro nisto. É o amor que ainda não foi devidamente sinalizado e continua a amar e a desejar a pessoa inteira, ou o mais inteira que possamos ter.

5 comentários:

gralha disse...

Bem verdade, Melissa.

Naná disse...

Melissa, é mesmo isto! Como é isto!!!

Anónimo disse...

Tão verdade! Tão verdadinha! Tão bem descrito...

Ana C. disse...

Adorei.

disse...

É tudo isso!

Sabes uma coisa que me impressiona, agora devido às novas tecnologias e falando directamente do FB, é uma amiga nossa ter falecido e de quando em vez ela "aparecer" no face do meu marido a dizer X gosta disto (não sei se me estou a explicar bem porque de FB percebo pouco)...é assim uma sensação boa mas estranha ao mesmo tempo.