Estou neste país há 23 anos, há 2/3 da minha vida toda. Sou portuguesa quase o tempo todo, em tudo. A minha maneira de ver a vida, as minhas posições, o meu humor, os meus defeitos são portugueses. O meu pai e irmão são muito mais portugueses do que brasileiros. Casa é Portugal, somos de cá, embora não sejamos percebidos como tal na maioria das vezes, mas isso seria outro post.
O que quero dizer é que, sendo portuguesa quase o tempo todo, tenho um passado nordestino e um coração nordestino, muito nordestino. Acho que o meu filho é nordestino, tem cara de menino de Icapuí. As minhas vogais abrem muito quando estou com a minha família. É uma região sofrida e as suas histórias são de sangue, dor e suor, e acho que até na minha costela gótica sou nordestina.
Caetano Veloso compôs Transa no exílio, e Transa traz "It's a Long Way", canção que ouço desde a minha adolescência. Gostava, primeiro, porque falava dos Beatles. Depois, gostava da frase "say, brothers", achava-a desesperada e bonita (e ainda acho). "We're not that strong, my Lord, you know we ain't that strong" é carregada de humildade nordestina. O meu fascínio por "It's a Long Way" ficava-se sempre pelo mote e cagava um bocado nas glosas, trechos de baiões antigos que se vão costurando ali com a lenga-lenga de "it's a long, long, long way".
Acabei de dizer ao meu irmão que It's a Long Way muda de sentido a cada dois ou três anos, para mim. E mudou outra vez, porque agora o baião que se ouve lá pelo meio faz todo o sentido. It's a Long Way. Long, long, long way (no meu caso, back). A long, long way entre Londres e o sertão da Bahia, a long, long way entre Lisboa e Fortaleza.
Já tinha escrito sobre esta canção, antes, acho eu. Que pena não usar tags para me lembrar de como a ouvia há dois anos.
3 comentários:
Faz uma pesquisa no teu blogue por "exílio" e chegas lá. Agosto de 2009.
És brilhante!
haha é o mesmo post. A idade, meu Deus.
Por outra, ninguém pode dizer que não sou uma pessoa constante :)
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