Ontem fomos passear de comboio, fomos até Cascais. Já não fazíamos esse trecho praticamente desde 2007, quando saímos do Monte Estoril, onde eu vivia com a minha mãe e, depois, os primeiros anos com o Hugo.
A estação do Monte Estoril é a mais bonita da linha. Para quem não conhece, fica mesmo à beira-mar, num cantinho escondido e já tentaram fechá-la várias vezes, sem sucesso. O Hugo murmura para mim:
- Isto é tão lindo, que saudades tenho eu de sair do comboio aqui.
E eu pus-me a pensar no tempo em que também saía ali, e lembrava-me de gostar de estar à beira do mar um bocadinho todos os dias. Mas, de alguma forma, não era uma memória boa. Vinha carregada do cheiro do mar, sim, da música que eu ouvia, dessas coisas todas, mas também de dor. Há uma dor impregnada naquela estação e em todo o Monte Estoril, por mais momentos felizes que tenha lá vivido (e vivi).
E essa sensação explicou-me o porquê de eu não conseguir acompanhar o meu pai, irmão e amigos quando se riem de episódios da vida da mamãe. As minhas memórias são grandes blocos que compactam uma série de sentimentos e sensações. São uns blocos multipolares em que há uma tónica predominante. No caso do Monte, a tónica não é fixe.
Felizmente, tenho outros blocos.
Até voltar a escrever de peito aberto sobre a minha mãe no blog, que era algo que me fazia imenso bem mas que alguém me tirou há uns tempos, tem uma tónica dominante - reparei agora. Deixou de me fazer um bem imenso. Espero que quem me tenha tirado isso esteja satisfeita.
Update: tónica predominante é megapleonasmo, né? Argh, será que depois de velha vou começar a usar essas muletas para escrever?
3 comentários:
Melissa, porque cedeste à vontade dos demais?
Se te faz bem, porque deixaste de falar da tua mãe de peito aberto?
Deixou de ser a mesma coisa... Enfim, perdem-se umas coisas, ganham-se outras, especialmente juizinho. Espero.
Cada um arruma as suas coisas como consegue. E hoje arrumas assim, amanhã logo se vê. Mas, pelas alminhas, não te sintas constrangida a escrever seja o que for, it's your blog and you cry if you want to, não é?
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