A tua prima Adriana nasceu no dia em que o Benfica venceu o Sporting por um zero, depois dum voo glorioso do Luisão que cabeceou a bola para dentro da baliza enquanto o Ricardo, Guarda-redes do Sporting na altura, se queixava duma falta. Gesticulou e gritou com vigor com todos os que lhe apareceram à frente até ficar sem voz com a gritaria e, por fim, percebendo que o árbitro não ia voltar atrás na decisão, lá foi para a baliza amuado e desgostoso com o futebol português. Se estivéssemos numa escola primária e a bola fosse dele, acabava com a jogatana logo ali.
Se foi falta ou não, não sei. Nos programas de televisão da semana seguinte discutiu-se muito e como sempre nestes casos, os adeptos do Sporting defenderam a falta e os do Benfica apregoavam a legalidade do lance. O Ricardo telefonou para todos os debates que pôde a dar a sua opinião, que não foi frango nenhum e que foi abalroado pelo gigante defesa benfiquista. Chegou a jurar por todos os santos, numa voz abatida e magoada dum menino de 5 anos a quem não lhe foi feita uma vontade, que a culpa não foi dele. Que a verdade desportiva foi vilipendiada mais uma vez e com claros prejuízos para o emblema de Alvalade.
O Benfica foi campeão nesse ano, era treinador o Trapattoni, e dentro da nossa família é evocada a efeméride sempre que se recorda a azáfama do dia do seu nascimento, normalmente nos jantares de Natal. Por isso, esse acontecimento vai estar sempre presente na vida da Adriana. Quando nasceu, o Benfica ganhou ao Sporting e foi campeão umas semanas depois. E olha que já não ganhávamos há 13 anos. Grande Adriana!
Isto para te dizer que no próximo Sábado, quando nasceres, também vai ser dia de Derby. Claro que isso implica que, contigo por perto, o teu pai não se vá pôr beber cerveja como um animal, nem chamar nomes maldosos ao árbitro. Não te quero dar um mau exemplo logo na primeira noite. Se estiveres acordado na altura, o que duvido, irás ver um progenitor calmo, consciente das suas funções e bastante civilizado quando confrontado com as vicissitudes normais duma transmissão futebolística. Poderás respirar de alívio face ao que te calhou em sorte.
Mas gostava que a tua vinda ao mundo seja marcada, tal como a Adriana, por uma boa notícia. Eu nem sequer me vou importar muito com o clube que escolheres. Para mim é-me igual ao litro. Prometi não me imiscuir nesse procedimento e, se queres que te diga, vou cumprir a promessa. O teu Avó, o meu pai, teve sempre uma atitude cool nesse assunto. Não se meteu e acabei por ser do clube rival. Mas o problema resolveu-se, levava-me aos jogos do Oriental. Se fores Sporting ou Porto levo-te aos jogos do Olivais e Moscavide que sempre são mais baratos. Pronto, está decidido. Mas duvido que tal venha a acontecer, o meu padrinho, o Pedro, já fez saber que não vai descansar enquanto não disseres a palavra mágica. Leve o tempo que demorar.
A tua prima Adriana, por exemplo, foi desde cedo ensinada a dizer Benfica sempre que ouvisse a pergunta “Quem é o maior?” E olha que nunca se enganava quando espicaçada para a habilidade.
Um dia, estava eu em amena cavaqueira com ela, tentando perceber a esperteza da miúda e no meio da averiguação pergunto-lhe quem era o maior, se a Girafa se o cão. A resposta veio na ponta da língua:
- O Benfica!
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