terça-feira, 15 de maio de 2012

Bestas Castradoras

Dentre o chorrilho de disparates que o meu pai disse em forma de conselhos desde que tivemos o Gabriel - dentre eles o de que o menino chorava aos 15 dias por enxaqueca - disse algo com que eu não podia concordar mais, aí quando o meu filho estava prestes a andar: que nessa fase, o mais importante era que ele ganhasse confiança e que lhe déssemos rédeas suficientes para ele testar os seus limites. Ouvi-o dizer à vodrasta do Gabriel: só vale a pena intervir quando a segurança dele está em causa. De resto, é deixar.

Claro que o tempo passou e agora não é só a segurança do Gabriel que está em causa, mas também o espaço dos outros. Por outras palavras, a educação dele começou (educação no sentido de trato com o próximo, as maneiras). Mas o princípio das rédeas largas mantém-se. O Gabriel não é expansivo nas birras, mas é nas alegrias, e não me apanharão a tentar conter o seu entusiasmo a menos que estejamos num hospital ou algo que o valha. Morro de pena - MORRO DE PENA -das crianças que têm de falar baixo o tempo todo, não podem gritar, não podem correr, não podem fazer nada daquilo que elas próprias entendem como diversão - a noção de diversão é-lhes dada inteiramente pelos pais, dentro dos parâmetros do que estes consideram aceitável. Tenho várias crianças a serem criadas nestes moldes à minha volta, para enorme pena minha. Acabam sempre de castigo por se comportarem exatamente da forma que o meu se comporta e o meu fica sozinho na sua liberdade, o que é triste.

Para terminar, digo só que a educação (mais uma vez: modos) do meu filho não são nem, vá, a minha 5a prioridade ao criá-lo.

Preferimos tornar-nos umas bestas selvagens, pois preferimos (mas não somos, na verdade somos uns lordes inatos), do que sermos bestas apertadoras de tomatinhos.

Felizmente os melhores amiguinhos dele também têm pais porreiros, com a graça de Deus.

E este é o post nº 1000 - que bom que calhou ser um sobre a alegria do meu filho!!! Yey, viva, blog!

14 comentários:

Ana C. disse...

Dizes isso, porque o Gabriel é um puto muito bem educado por natureza :)

Maria João disse...

" Bestas apertadoras de tomatinhos", amei!!!!! Pois, percebo e concordo com o que dizes. Por vezes dou comigo a ser uma dessas mães, mas páro e tempo e penso "mas porque raio estou a ralhar com ela por estar a correr?!". Consigo ter bom senso. Por enquanto, pelo menos...Por aqui noto uma grande diferença na forma como as crianças são criadas, em relação á Portugal. Com muito mais liberdade, sem dúvida. São independentes muito mais cedo, porque os pais lhes dão espaço para isso. Muito diferente da forma de educar Portuguesa.

Melissa disse...

Cê, ele é educadinho por natureza porque quase nada é proibido :) É faca de dois legumes, uma parte é minha.

Melissa disse...

Tenho uma criança mesmo muito perto de mim, da mesma idade do Gabriel, que é considerada uma peste, está sempre a levar com gritos por tudo e por nada e está sempre de castigo e eu nunca consegui ver bem o problema que os pais vêm. Não é pacholas como o meu, é mais reguila, mas nada que não se veja em todo o lado.

O certo é que está cada vez mais impaciente, mais energética e mais birrenta.

Se eu tivesse de ter uma bandeira de maternidade, que não tenho, seria de que putos têm de ter permissão para serem putos, se não a energia começa a extravasar de outra forma. Cada par de pais com o seu método, mas apertar colhões aos putos parece-me contraproducente em qualquer tipo de educação.
E triste.

Melissa disse...

Maria João, o que eu tenho reparado é que tanto eu como o Hugo "fingimos" valorizar coisas em público que não valorizamos, só porque outros pais o fazem, com o tal não correr, não gritar, não isto e não aquilo, só para ficar bem na foto. É algo que estamos a combater neste momento. Gera algum embaraço, do género "porque é que o fulaninho ficou de castigo se não bateu em ninguém nem fez mal a ninguém" mas torna-nos mais fiéis ao nosso filho e ao que somos.

E sim, estou a gabar-me, porque caneco, isto é algo que fazemos mesmo muito bem :) Amanhã posso estar a escrever o post das boas-vindas ao mau feitio do iéu, mas hoje ainda não. É um puto muito fixe, mas sim, fala super alto, foge no shopping, excita-se e fala mais alto ainda, salta para dentro de poças, caga-se todo na rua, pede gelados, pede doces, é um negociador duro, não curte emprestar brinquedos no parque.

Acho que pelas mesmíssimas coisas podia dizer que ele era trabalhoso e difícil, mas não é, é mesmo um puto fixe.

É tipo a cena da plasticina, o que para uns é trágico, para outros é plasticina.

Anónimo disse...

Nós também não somos de stresses, aliás, tenho concluido que quantos mais stresses criamos, mais levamos em cima, tipo karma.
Ensinamos boas maneiras, como dizer obrigado, explicamos o que é a liberdade deles e a dos outros mas tudo no âmbito da longa conversa que é o próprio crescimento deles. Não são uns miudos estupidos, isso orgulha-nos muito. Na Festa de Natal dos filhos dos funcionários ficaram sentados à espera da sua vez, felizes mas não tentaram despir o pai natal como outros fizeram...

Supertatas disse...

perdão? o gabriel fala super alto? ahahahah o que me rio :D

Melissa disse...

hahhahaha

Rita disse...

Ok eu confesso que fui uma mãe castradora! A verdade é que sempre que ía a algum lado com os 4 todos os olhares se punham em nós, e era capaz de adivinhar naqueles olhares um "coitada, 4 filhos, que loucura" e isso deixava-me chateada. Nunca fui digna de pena e ficava chateada por sentir esses olhares em mim. Portanto, o meu objectivo era que os meus filhos fossem calmíssimos, super bem comportados e que mal se desse por eles. Era uma forma de "calar" aqueles olhares. Hoje em dia já não sou tanto assim. Por um lado porque eles sabem como é que é suposto portarem-se e as coisas não fogem muito daquilo que é "confortável" para mim, por outro lado porque cada vez mais me estou a cagar para aquilo que os outros pensam! Enfim, não são só eles que estão a crescer.

Melissa disse...

Rita, andamos todos a crescer ao mesmo ritmo. Os pais nascem no dia em que nascem os filhos :)

Naná disse...

Eu só me torno besta castradora quando vejo que a correria o pode pôr em perigo... e aqui sempre foi uma luta interior, porque o meu cérebro de técnica de segurança do trabalho me faz ver mini-tragédias em coisas que muitos não lhes passa sequer pela cabeça.
Basicamente comporto-me um pouco como uma mãe águia... deixo-o fazer mas estou sempre a meio metro atrás, não vá ele precisar de uma mão para o segurar (como há dias, quando não caiu de cabeça de cima da cama, arriscando-se a torcer o pescoço!).
Quanto aos gritos e ao falar alto, padeço desse mal, e sou castradora apenas porque detesto gritos e os decibéis que ele debita em cada grito me complicam os "radares"... e se me complicam a mim, calculo que complicará aos demais e isso eu não quero!

triss disse...

A minha miúda é calminha, fora uma birra ou outra, própria da idade. Eu deixo-a correr, ir falar com os velhotes que estão no jardim (nunca me meto na socialização dela com os outros), brincar com os outros meninos, mexer na terra, ficar com as unhas e as mãos pretas, que depois esfrega na cara, e deixo-a pisar as poças de água, e ela molha-se. É uma questão de levar umas meias extra.

Mas é como diz a Náná, estou sempre meio metro atrás, mas dou-lhe liberdade.

manue disse...

Não estou a perceber bem. Estamos a falar por exemplo de crianças fazerem barulho num restaurante ou correrem à volta das mesas? porque eu acho que a minha criança não pode estar a incomodar as outras pessoas ao fazer barulho, e mando-a calar, sou uma besta castradora?

Melissa disse...

Eu ponho-o na ordem quando vejo que está a entrar no espaço dos outros ou que está a arriscar-se - claro que isso vai variar de pessoa para pessoa. Eu acho que é ser besta castradora reprimir algo que não está a fazer mal a ninguém.