Com o Indie é sempre assim: lemos uma sinopse, gostamos da ideia, e vamos sem ter a menor ideia do que vamos encontrar: tanto o realizador pode dar para o estilo deixa-me-enfiar-a-cabeça-no-meu-próprio-umbigo-e-chafurdar-bastante como pode ser mais aberto e mais voltado para o público, fazendo coisas giras e interessantes mesmo com pouco dinheiro.
E, caramba, foi o caso das sessões das 19h15 e das 21h45 que vimos ontem no São Jorge.
A primeira foi uma maravilhazinha de documentário.
A Ana Rieper, realizadora, viu Aquele Querido Mês de Agosto e viu bem - há muitos pontos de encontro entre os dois filmes. Mas o delicioso da ideia que esta senhora teve foi pegar nas letras bregas dos sucessos nordestinos e ir atrás das suas histórias, porque, como todos os entrevistados dizem, letra brega aconteceu mesmo. Se o autor escreveu, é porque viveu. Então a produção mandou, como dizem no site, dois "garimpeiros" de histórias de amor para o interior de Sergipe e Alagoas e, caramba, os senhores encontraram de tudo: um homem com duas famílias em que os nomes dos filhos tanto da mulher quanto da amante começam pelo seu (Osmarildo, Osmarílton, Osmarlinda...), prostitutas "resgatadas da vida" por amor, travestis que amam como mulheres, mulheres que já sofreram todas as dores de amor que existem, amantes que o são há 10 anos mas ainda têm esperança de mudar de vida, mães que dizem às filhas que preferem vê-las "saindo de casa dentro dum caixão" do que vê-las raparigas de homens casados.
"Vou rifar meu Coração" é sobre a banda sonora dessas vidas: Agnaldo Timóteo, Wando, Amado Batista entre outros, que entram na história a falar das composições, da inspiração, do sucesso, da injustiça de não serem considerados boa música, quando grandes êxitos bregas são regravados por nomes como Caetano Veloso e Maria Bethânia e de repentem viram "MPB". Enfim, é filme para rir, é para rir mais ainda, para aprender, para nos pormos no lugar daquela gente, para termos pena das penas. E para quem conhece e viveu o interior do Nordeste brasileiro, como eu, é para fazer brilhar os olhos.
Lá fomos jantar todos empolgados, a reconstituir o filme (fez-me mesmo lembrar a saída do Querido Mês de Agosto - tanta coisa fixe para comentar!), a fazer tempo para a 2a sessão, que certamente seria muito fraquinha, já que estávamos tão felizes com a primeira. Para nossa surpresa, a sessão das 21h45 foi surpreendentemente BOA.
17 Filles baseia-se num episódio que ficou conhecido nos EUA como as "Glocester 18", 18 raparigas entre os 15 e os 17 anos do mesmo liceu que, em 2008, fazem um "pacto de gravidez". Mais de 150 testes de gravidez foram solicitados na enfermaria da escola num período curto de tempo, e as raparigas ficavam felicíssimas ao descobrir que estavam mesmo grávidas. O filme tem umas atrizes novinhas, lindas e muito talentosas, e, caramba, está muito bem esguelhado. Ficamos mesmo a partilhar a perplexidade dos adultos envolvidos: sabemos lidar com tentativas de domínio do próprio corpo como as tatuagens e anorexia, mas como agir sobre a gravidez como manifesto? O filme levanta mais perguntas do que dá respostas, e chega a ser assustador. Acho brilhante que o tenham posto no IndieJúnior + 12. Havia adolescentes na sala e, tal e qual os adultos, sairam abananados e a falar do filme, cada qual com a sua opinião.
Os dois filmes ainda têm sessões (o primeiro volta a ser exibido no dia 6 de Maio). Procurem vê-los! Nunca sabemos se os filmes do Indie estrearão ou não em circuito comercial, por isso, é aproveitar.
4 comentários:
Queria tanto, queria tanto, e essas coisas nunca dão para piratear, maldição!
Ó pá, não há uma avó caridosa na parada?
Olha, de qualquer forma, vamos à sessão +3 com o Gabriel no domingo, bugas? Sei, é dia da mãe e tal :)
Pois, esse é o problema de filmes menos comerciais, não há meio de os apanhar na rede...
ACIONEM AS AVÓS, MALTINHA. Ou um amigo desprevenido.
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