Estou cansada de mentiras inúteis. Não me entendam mal, eu minto, sim, quando preciso - e entendo as mentiras funcionais. E vá, também aumento um pontinho quando conto uma história interessante, porque quem é que gosta de coisas estritamente literais, né? Cansam-me é os episódios de ficção com que as pessoas salpicam as suas vidas em busca de mais glamour, mais drama, mais originalidade, mais carisma... Mais atenção, na verdade.
Cansa-me estar sempre a fingir que engulo esses episódios de ficção. Cansa-me e faz-me sentir idiota, sempre e a cada vez. Pessoas com episódios de ficção na vida: quando eu começo a ficar calada ou ausente enquanto me contam coisas mirabolantes, não é porque eu não tenho coração. É porque estou a esforçar-me para fingir que acredito. Guardem as purpurinas para pessoas mais crédulas, pelo menos. Comigo é lixado.
O mais triste disto é que as vidas "reais", "comuns", são sempre tão giras e tão adoráveis e reconhecíveis. Mesmo com problemas. Essas conversas sim, prendem a minha atenção e essas pessoas sim, têm o meu interesse.
Tenho pena de que tanta gente fixe por aí ache que precisa de purpurina na vida para achar que tem algum valor. Não, pá, entenderam tudo mal. Acho que a maioria das pessoas prefere o drama e o glamour nas revistas, livros e tevê. Aqui fora, o passado que tiveram e o presente que as pessoas têm deve ser suficiente. Se não for suficiente para a pessoa X ou Y, é porque essa pessoa não é a nossa pessoa, outra há-de ser.
Claro que, primeiro, terá de ser o próprio autor das ficções a achar que a sua vida simples e chata é, na verdade, exuberante e cheia de brilho. Em não conseguindo achar e precisando de exuberância e brilho, fazer por onde a vida os tenha, e não inventar outra por cima.
Esta é uma imagem incrivelmente macabra de Pinóquio. Sou uma coisinha macabra, como já admiti em público. Faz parte da minha exuberância e brilho, ou absoluta falta dos dois.
8 comentários:
Eu gosto de purpurinas em alguns vernizes. E nas sombras e nos batons. A vida sem purpurina não tem tanta graça.
E gostava tambem que a minha vida tivesse mais purpurunas, mais glamour.
Talvez as pessoas que as usam em excesso tenham vidas tão sem brilho que acreditam que, se mentirem muito sobre a existencia das purpurinas, elas se tornam realidade.
(olha que titulo giro para um livro da Margarida Rebelo Pinto - "A Ilusão Da Purpurina")
mas uma coisa é certa: quanto mais me impingem vidas purpuinadas mais eu vejo vidas baças.
E é tramado.
Pois. Também já postei sobre isso. Pois.
Eu tenho uma teoria... quem tem vidas simples e reais, sem purpurina, daquelas que te prendem a atenção, são as que se acham mais sensaboronas e pouco dignas de partilha.
E calam as suas histórias...
Pessoas assim sempre existiram, mas com o fenómeno do facebook e dos blogues, a necessidade e facilidade de dramatizar a própria vida, de forma a ter mais comentários e reacções dos "amigos", chegou aos píncaros da loucura e acho que se tornou compulsivo.
Ando cansada, caneco.
eu tenho uma grande necessidade de dramatizar a minha vida :D sou drama queen, é a coisa que mais sou no mundo. Mas faço-o com a verdade. Estico-me e faço piruetas louváveis dentro do que realmente aconteceu.
Estou FARTA de mentiras mal elaboradas, facilmente apanháveis, heróicas, retiradas da TV, em série, vindas de toda a parte, a gritar "AMEM-ME" por todos os lados.
Eu, como vivo numa terra pequena, já nem noto... ahahahah
Aqui há filmes e aparências e cenas, para o bem e para o mal.
O facto é que o teu ultimo comentário me fez pensar... a questão do "Amem-me"... porque no fundo, e provavelmente, é só isso, falta de amor... e isso é triste...
Igualmente triste é medirmos as nossas vidas pelas vidas que outros, aparentemente, vivem. Essa lição já a aprendi há muito e é muito importante.
Neste micro-facebook que é o meu concelho o meu blog, que conta histórias de pessoas de cá, tem desmistificado algumas vidas e, algumas histórias têm feito engolir em seco. Sabes porquê? Porque as pessoas são julgadas e qundo são elas a falar das suas coisas ali, é tudo tão simples e tem a sua razão de ser. Tem sido uma grande lição, para mim e para outros! E já é um objectivo conseguido!
Por um lado é uma evolucäo em comparacäo com o negativismo do "vai-se andando..."
Mas näo melhorou... Daqui a 10 anos talvez o meio termo :)
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