sexta-feira, 2 de março de 2012

A mercearia

Há muitos e muitos anos, mais ou menos perto daqui, havia uma mercearia, ou frutaria. Lembro-me mesmo muito vagamente, mas era uma coisinha pequenina, porta para a rua, fruta no passeio. E um senhor na cadeira a controlar os caixotes da fruta, à espera dos fregueses.

Hoje, a mercearia/frutaria não existe mais. Mas continua de portas abertas. Quem atreve um olhar lá para dentro, vê toda a espécie de lixo, caixotes, caixas, frigoríficos velhos e quebrados... Um depósito do que aquilo foi antes. Um cheiro forte de urina entorpece-nos ao passarmos em frente - mas quase ninguém passa, as pessoas preferem atravessar a rua e contornar o local como se aquele cemitério lhes causasse arrepios. É o passado que se recusa fechar as portas.

E o senhor continua lá sentado na cadeira ao lado dos caixotes da fruta, à espera dos clientes, à espera que tudo volte ao normal, "o que diabo aconteceu?", deve pensar enquanto não chega a hora de pôr os caixotes para dentro e fechar.

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