Não sou retornada, mas a minha chegada a Portugal também não foi pacífica. Não vou expor as dificuldades pelas quais passámos porque a história não é só minha, mas agora, dois ou três dias depois de ter terminado o livro, vejo que afinal aquilo ressoou não só por ser excelente literatura, que é, mas porque me vi ali dentro em várias situações (embora não imediatamente: na verdade, só pensei nisso hoje).
Sobre a história que é minha: aos 13 anos fui assediada várias vezes como se fosse uma mulher adulta porque toda brasileira era puta ( e respondia bem, aqui a idiota, por achar que era um problema de diferenças de palavra, ou algo assim), fizeram-me propostas verdadeiramente porcas em metros, estações de comboio, no meio da rua, até. E eu respondia sorrindo, grande parva. Na escola, por não entender o que a professora de trabalhos manuais queria, já fiquei a lavar a sala no fim das aulas. Era do sol do meu país, dizia ela, queimou-me a moleirinha e fiquei daquele jeito, sem entender o que se dizia em bom português. (Primeiro nome da professora: Anabela, escola Dom João de Castro, em Lisboa, ano letivo de 1989/90, ai, se eu tivesse o segundo nome dela, ia atrás dela com gosto de sangue na boca).
Essa é a parte má, claro. Na verdade, de um modo geral correu bem, porque, volvidos 23 anos, ainda cá estamos todos. Mas disso aí em cima, não me hei-de esquecer. Ficou gravado.
E ai de quem faça piadas de brasileiras ao pé de mim.
7 comentários:
Para ficares mais descansada, fica a saber que em Portugal assediam toda a gente, portuguesas inclusive. Aos 12 e 13 recebi muitas propostas indecentes (a que tb respondi educadamente), e só depois de adulta me dou conta de que aueles gajos deveriam ter levado um tiro.
Mas as minhas levavam "brasileira" na proposta, mm. É meio diferente, acredita.
Mas aos 12, 13 anos éramos mesmo totós. Aí aos 15 comecei a dizer que ia chamar a polícia.
*todo assédio é violento, é claro. Mas quando usam a tua minoria para o fazer quando ainda nem sabes bem o que é uma minoria... Sei lá, tenho raiva até hoje.
É a única coisa que me tira do sério em público.
Muita mania têm os portugueses de que são o supra-sumo da tolerância. Ainda hoje em dia um miúdo que conheço resolveu passar a usar outro nome próprio (o segundo) porque gozavam com ele na escola por ser um nome brasileiro. Que nervos que isso me dá!
O pior, Gralha, é quando ninguém te diz que quem está errado é o outro.
"Quando usam a tua minoria...quando ainda nem sabes bem o que é uma minoria"
É mesmo isso Melissa! É isso que dá raiva!
E se queres saber, nunca deixei que fizessem piadas com brasileiras ao pé de mim. ODEIO!
Eu por exemplo com 12 ou 13 eu já tinha corpo de 17 e era terrível. Hoje olhando para trás é que vejo a quantidade de pedófilos com que me cruzei.Credo.
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